quinta-feira, 5 de março de 2015

Aleitamento Materno

Tipos de Aleitamento:


Aleitamento Materno Exclusivo: a criança recebe apenas leite materno, diretamente do seio, ordenhado ou proveniente de banco de leite, sem receber nenhum outro líquido ou sólido, exceto medicamentos, sais de hidratação e eventualmente vitaminas. Caso esse "líquido" em questão seja um leite de outro animal, passamos a utilizar o termo Aleitamento Materno "Misto".

Aleitamento Materno Predominante: além do leite materno, a criança recebe outros LÍQUIDOS: chás, sucos de fruta, água.

Aleitamento Materno complementado: além do leite materno, a criança recebe alimentos sólidos ou pastosos ("papinha").

Aleitamento Materno Misto: além do leite materno, a criança recebe outros tipos de leite

Vantagens do Aleitamento Materno

Vantagens para o bebê:

  • Redução da mortalidade infantil (estima-se que ocorra uma redução de 13% na mortalidade em crianças abaixo de 5 anos)
  • Composição nutricional ideal e suficiente para o lactente
  • Prevenção de doenças: diminuição da incidência e gravidade de doenças infecciosas diarreicas, bem como complicações hidroeletrolíticas. Diminuição da incidência e gravidade de infecções respiratórias. Diminuição da incidência de doenças imunoalérgicas (asma, dermatite atópica). Diminuição de doenças crônicas, neoplásicas e autoimunes: leucemias, linfomas, Crohn, RCU, diabetes tipo 1 e 2, síndrome metabólica, HAS.
  • Melhor desenvolvimento cognitivo
  • Melhor desenvolvimento da cavidade oral: ajuda a prevenir problemas de fala, mastigação/deglutição e elevações do palato causados por chupetas e mamadeiras
Vantagens para a mãe:
  • Prevenção da hemorragia pós-parto: reflexo de fergusson: a sucção do mamilo desencadeia liberação de ocitocina, que além de provocar ejeção do leite, também provoca contração uterina, favorecendo a dequitação placentária e diminuindo hemorragia pós-parto.
  • Método Contraceptivo: pela promoção de amenorréia lactacional. A eficácia é mantida até 6 meses após o parto, caso três condições sejam satisfeitas: aleitamento materno exclusivo ou predominante, amenorréia, e tempo até 6 meses.
  • Remineralização óssea
  • Diminuição de risco de câncer de mama e ovário
  • Prevenção contra DM tipo 2: estima-se que haja queda de 15% na incidência de DM tipo 2 por ano amamentado.
  • Emagrece: gasto energético de 700kcal/dia.
  • Economia: poupa recursos gastos com fórmulas infantis e preparo das mesmas.
Causas de "Desmame Precoce"
  • Propaganda de fórmulas infantis
  • Falta de orientação adequada
  • Uso de bicos/chupetas: facilitam o desmame pois "ensinam" o recém-nato a posicionar erroneamente a língua ao sugar a mama. Além disso, favorecem alterações ortodônticas, aumentam a incidência de candidíase oral e servem de veículo para enteroparasitoses.

Hospital Amigo da Criança


É um programa da OMS/UNICEF adotado pelo Ministério da Saúde. O hospital que adota os 10 princípios desse programa é considerado "Amigo da Criança". Trata-se de um conjunto de procedimentos mínimos cientificamente e internacionalmente reconhecidos:
  1. Ter um protocolo escrito sobre aleitamento, rotineiramente transmitido a toda equipe de cuidados de saúde.
  2. Treinar toda a equipe de saúde, capacitando-a para implementar este protocolo
  3. Informar todas as gestantes sobre as vantagens e técnica de aleitamento
  4. Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira hora após o nascimento
  5. Mostrar às mães como amamentar e manter a lactação
  6. Não dar a recém-nascidos nenhum outro alimento além do leite materno, a não ser que haja prescrição médica.
  7. Praticar o "alojamento conjunto" - permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24h/dia.
  8. Encorajar o aleitamento sob livre demanda
  9. Não dar bicos ou chupetas a lactentes.
  10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, para onde as mães deverão ser encaminhadas, por ocasião da alta do hospital.

Fisiologia da lactação

  • Decorre de complexas interações de vias neuropsicoendócrinas.
  • Progesterona estimula o crescimento dos alvéolos e lobos durante a gravidez, ao passo que o estrogênio estimula a proliferação de ductos lactíferos e suas ramificações. Participam também desse processo prolactina, lactogênio placentário e HCG (lactogênese fase I)
  • Embora a prolactina esteja alta na gravidez, não há secreção de leite, pois há inibição pelo lactogênio placentário e pela progesterona. Somente com a saída da placenta essa inibição é liberada, e a secreção do leite aumenta (lactogênese fase II). A ocitocina elevada promoverá ejeção do leite.
  • Entre o terceiro e quarto dia pós-parto, ocorre a "descida" ou "apojadura", mesmo que não haja sucção (ex: feto morto, contraindicação à lactação)
  • Lactogênese ou "galactopoiese" fase III: manutenção da produção e ejeção do leite, sob total dependência da sucção do mamilo pelo bebê e esvaziamento das mamas. Estes últimos, quando feitos corretamente, exercem feedback positivo na produção de leite, através do aumento da produção de prolactina e ocitocina. Nesta fase, é comum que haja bloqueio da galactopoiese por fatores "psicológicos" ou "hipotalâmicos", como estresse, ansiedade, medo, autoestima baixa, dor, e falta de apoio. Sabe-se que a adrenalina e noradrenalina mediam essa inibição na célula mioepitelial mamária e no eixo hipotálamo-hipofisário, respectivamente.
  • O recém-nato possui reflexos que promovem a amamentação. São eles: 
    • Reflexo de busca ou "dos pontos cardeais": faz com que o recém-nascido se vire em direção a algo que toque sua bochecha e abra sua boca, na antecipação de uma eventual teta. 
    • Reflexo de sucção: o contato do mamilo com a parte posterior da língua e palato inicia o processo de ordenha dos seios lactíferos.
    • Reflexo de deglutição: pode estar presente de forma imatura e insatisfatória em prematuros com idade gestacional inferior a 34 semanas.

Diferenças entre Leite Humano e Leite de Vaca:


Fatores protetores presentes no Leite Humano
  • IgA: produzida por linfócitos da mãe, específica contra patógenos do ambiente, é transmitida ao recém-nato, revestindo o epitélio do seu trato gastrointestinal (não é absorvida nem digerida) e portanto, protegendo contra patógenos locais.
  • Fator bífido: favorece a proliferação de Lactobacilos da flora saprófita, que impedem a proliferação de patógenos. Juntamente com a lactose, favorecem a acidificação do pH intestinal, que também dificulta a proliferação de patógenos.
  • Lisozima: fator bactericida sintetizado por macrófagos e neutrófilos
  • Lactoferrina: fator bacteriostático, carreia o ferro, indisponibilizando o mesmo para microorganismos patogênicos (E. coli, cândida, S. aureus) e no entanto, mantendo biodisponibilidade para o recém-nascido.
  • Lactoperoxidase: ativa contra strepto
  • Lipase: eficaz contra Giardia e Entamoeba histolytica
  • O leite contém macrófagos, neutrófilos e linfócitos, principalmente nas primeiras semanas de vida. Esses "reforços" ativam outras células de defesa e tem papel secretor de fatores locais.
  • Enfim, existem uma série de outros fatores bactericidas, bacteriostáticos, etc.
Diferenças nas concentrações do leite Humano X Vaca

O leite Humano tem:

MENOS proteína, porém de melhor qualidade (mais whey/menos caseína)
MENOS eletrólitos, porém o cálcio é melhor absorvido
MAIS carboidratos (lactose, predominantemente)
SEMELHANTE ferro, porém o ferro é mais biodisponível
Alfalactoalbumina, hipoalergênica, em contraste com a Betalactoglobulina da Vaca, que é hiperalergênica
MAIS gorduras e colesterol, e mais PUFAs (polyunsaturated fatty acids)
MAIS vitaminas
MENOS bactérias (ausentes, em tese)
Aminoácidos: contém mais taurina, maior disponibilidade de carnitina, menor relação metionina/cistina; não contém excesso de tirosina e fenilalanina como o de vaca.

carências: 
Vitamina K: concentração baixa no leite humano, e o recém-nascido só começa a produzir através da flora saprófita a partir de duas semanas de vida. Logo, todo recém-nascido deve receber suplementação de vitamina K IM após o nascimento.

Vitamina D: pode ocorrer em mães que tem deficiência dessa vitamina, estando indicada a suplementação por via oral.

Flúor: depende da concentração na água local, mas não está indicada a suplementação em neonatos, somente em crianças maiores, entre 6 meses e 3 anos.

Desnutrição Materna: leva a um comprometimento do volume de leite produzido, embora a qualidade do leite permaneça a mesma, exceto por uma baixa nas quantidades de vitaminas hidrossolúveis.

Fases da produção Láctea:

Colostro
Leite de transição
Leite Maduro

Colostro VS Leite Maduro: o colostro tem mais vitaminas lipossolúveis, maior concentração de imunoglobulinas, minerais e proteínas. Lembra um exsudato plasmático. O leite maduro tem concentrações muito maiores de gordura, lactose e vitaminas hidrossolúveis. O leite maduro começa a ser produzido de forma mais intensa a partir da segunda quinzena pós-parto.

Contraindicações à amamentação:

Podem ser divididas em maternas e fetais.

Maternas:
  • HIV
  • HTLV-1 e HTLV-2 (paraparesia espástica tropical)
  • Psicose puerperal grave
  • Eclâmpsia
  • Choque
  • Drogas antineoplásicas (hidroxiureia e bleomicina podem com cautela)
  • Drogas imunossupressoras (metotrexate pode com cautela)
  • Derivados do ergot
  • Meios de Contraste
  • Amiodarona, Ganciclovir, Linezolida. Hormônios, Sais de Ouro, Bromocriptina, Selegilina, Doxepina, Zonisamida
Relacionadas à Criança:
  • Galactosemia
FALSAS contraindicações, "pegadinhas": tuberculose, mastite, herpes sem lesão ativa na mama, hepatite B e C. Nesses casos, é possível e recomendado amamentar tomando-se cuidados específicos para as patologias.

Situações Especiais:
  • Fenilcetonúria: não contraindica, mas o manejo envolve monitorização dos níveis de fenilalanina, utilização de fórmula complementar e eventual suspensão da amamentação em caso de elevação da fenilalanina sérica a níveis inaceitáveis.
  • CMV: é transmitido pelo leite, mas não contraindica. Em RNs a termo saudáveis, o leite pode ser oferecido sem qualquer cuidado adicional, pois em geral a infecção é assintomática e não deixa sequelas. Em RN menor que 32 semanas, deve-se proceder ao congelamento seguido de pasteurização do leite, pelo risco de doença citomegálica grave.
  • Tuberculose: não contraindica, o bacilo de Koch não é excretado no leite materno. Em caso de mãe bacilífera, a mãe deve amamentar em lugar arejado e com máscara. Deve ser administrada ao RN isoniazida profilática (quimioprofilaxia primária) e não realizar BCG. Com 3 meses, procede-se à realização de um PPD. Se não reator, o RN não foi infectado. Suspende-se a isoniazida e se vacina com o BCG.  Se positivo, deve-se procurar por sinais de adoecimento, pois a criança provavelmente foi infectada. Se assintomática, o uso de isoniazida deve continuar por mais três meses e suspenso com seis meses de vida. Se sintomática, iniciar tratamento. Após 6 meses, se ainda não recebeu BCG, não é necessário vaciná-la. Nas mães não-bacilíferas, a amamentação prossegue sem cuidados adicionais.
  • Hanseníase: não contraindica, exceto quando há lesões na mama ou hanseníase virchowiana: nesses casos pesar risco/benefício. Deve-se administrar BCG para induzir proteção cruzada contra hanseníase.
  • Hepatite B: não contraindica. O maior risco de transmissão é intraparto. A conduta é banho imediato no recém-nascido para retirada de secreções, vacinação anti-hepatite B e imunoglobulina específica nas primeiras 12h de parto.
  • Hepatite A: não contraindica. Se a mãe estiver na fase aguda, a criança deve receber imunoglobulina.
  • Chagas: só contraindica se houver lesões ativas no mamilo ou se a mãe estiver na fase aguda da doença (alta parasitemia).
  • Herpes Simples: contraindica somente se houver lesões ativas no mamilo/mama
  • Varicela: caso ocorra na mãe até 5 dias antes do parto, não contraindica, pois a mãe passará anticorpos para o RN, que deverá ter uma forma leve de varicela. Caso a mãe apresente varicela de cinco dias antes até dois dias depois do parto, é preciso cuidado, pois o RN está sob risco de varicela grave. As mães nesse caso deverão ser isoladas do RN, o leite deverá ser ordenhado e oferecido ao bebê. O contato mãe-bebê poderá ser retomado na fase de crostas. Deve-se administrar imunoglobulina específica (VZIG) ao RN. 
  • Leptospirose, listeriose, brucelose: há risco de transmissão, portanto o leite deve ser ordenhado e pasteurizado antes de oferecido.




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